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Missão da ONU em Darfur carece de apoio logístico

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Nações Unidas, 10/10/2007, (IPS) – A Organização das Nações Unidas recebeu oferta de 16 países para contribuir com soldados e apoio logístico para a força de paz destinada à região sudanesa de Darfur.

Mas a carência mais urgente é a do transporte aéreo. A força será formada em conjunto pela ONU e a União Africana. Como exigiu o governo do Sudão, na maioria os soldados são de 10 países do continente africano: Burkina Faso, Egito, Etiópia, Gâmbia, Gana, Quênia, Malawi, Mali, Nigéria e Senegal. Os demais procederiam de Bangladesh, Jordânia, Nepal e Tailândia, enquanto unidades médicas e equipes de engenheiros seriam fornecidos em sua maioria pela Holanda e por países nórdicos.

Porém, o secretário-geral da ONU para Operações de Paz, Jean-Marie Guehenno, disse a jornalistas na segunda-feira que há uma urgente necessidade de transporte terrestre e aéreo, sobretudo helicópteros com luz tática para permitir que os soldados possam se mover rapidamente para zonas de conflito. “Simplesmente não temos os helicópteros que precisamos para operar em Darfur”, afirmou. Consultado se as nações européias deveriam responder a este chamado, Guehenno disse que espera uma reação “de qualquer país de qualquer continente, não só da Europa, para saber que grau de prioridade tem Darfur (para essas nações) e se podem se comprometer em uma operação”. O funcionário destacou que a missão necessita no mínimo de 24 helicópteros: 18 de transporte e seis táticos.

Darfur é uma zona muito grande, semelhante ao território da França, mas com uma população muito fragmentada. “Se queremos garantir a proteção dos civis, precisamos mobilidade e poder de fogo”, ressaltou Guehenno. Perguntado sobre prazo para o envio da força, no que é considerado um ambiente militarmente volátil, disse que passarão vários meses de 2008 antes de “alcançar plena capacidade. Se não tivermos elementos-chave para uma força no começo de 2008”, incluindo batalhões de infantaria bem equipados, “será preocupante”, ressaltou. Guehenno informou que esperava contar com um quartel-general e pelo menos dois batalhões de infantaria no final deste mês.

A ONU calcula que mais de 200 mil pessoas morreram e dois milhões são refugiadas devido à violência em Darfur. Os ataques do mês passado que mataram 10 soldados de paz da União Africana ameaçaram não apenas as futuras conversações de paz na Líbia, mas o envio da força internacional das Nações Unidas. Os problemas de Darfur, reino independente anexado pelo Sudão em 1917, começaram na década de 70 como uma disputa por terras de pastoreio entre nômades árabes e agricultores indígenas negros. Essas duas comunidades compartilham a fé islâmica.

Porém, a tensão se transformou em uma guerra civil em fevereiro de 2003, quando guerrilheiros negros responderam com violência às hostilidades dasmilicias Janjaweed (cavaleiros). Os Janjaweed, apoiados por Cartum, são acusados de realizar uma campanha de limpeza étnica contra três tribos negras que apóiam as organizações guerrilheiras Exército para a Libertaçao do Sudão e Movimento pela Justiça e a Igualdade.

Após um ataque contra as forças de paz, o Senegal ameaçou retirar seus soldados, segundo a imprensa. Consultado se outras nações fizeram ameaças semelhantes, Guehenno disse que em uma recente reunião com os países que contribuíram com soldados “não houve comunicações formais nem informais (de nenhum país, incluindo o Senegal) de que reconsideraria sua participação”. Em julho, o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade a criação de uma força conjunta das Nações Unidas com a União Africana para Darfur, com 10 mil soldados, mais de 600 policiais e mais de 5.500 funcionários civis.

Considerada uma das maiores forças de paz do mundo, atrás da enviada à República Democrática do Congo, com 17 mil soldados, a Missão da ONU em Darfur (Unamid) assumira as funções da enviada pela União Africana ao Sudão em 2004. a Unamid atua sob o capitulo VII da Carta da ONU para apoiar a implementação efetiva do Acordo de Paz de Darfur. Alcançado entre o governo e os rebeldes no ano passado. A missão das Nações Unidas também tem o mandato de proteger os civis, impedir ataques armados e garantir a segurança dos trabalhadores humanitários, bem como seu próprio pessoal e instalações.

Guehenno considera um “marco importante” as próximas conversações de paz que acontecerão na Líbia no próximo dia 27. porém, afirmou que as negociações entre Cartum e os grupos rebeldes será um “processo difícil. A situação no terreno não é boa. De fato, deteriorou devido a um crescente ciclo de violência no sul”, afirmou. Guehenno também alertou para o “sério risco” de a situação em Darfur se estender ainda mais, como já aconteceu em relação ao vizinho Chade. (Envolverde/ IPS) (FIN/2007)

Pobre e isolado, Níger organiza referendo sob temor de violência

ANDREA MURTA
da Folha de S.Paulo

Em região semidesértica, paupérrima e quase sem infraestrutura, o Níger entra nesta terça-feira para o crescente grupo dos países cujos mandatários puseram em marcha referendos a fim de permitir a reeleição ilimitada.

Para isso, o presidente Mamadou Tandja, 71, passou por cima do Parlamento e do Tribunal Constitucional. Ambos se opuseram à votação e foram sumariamente dissolvidos.

Nas últimas semanas, milhares de pessoas tomaram as ruas da capital nigerina, Niamey, em manifestações contra o referendo e a abolição das instituições democráticas. Em 15 de julho, um ato terminou em confronto com a polícia.

Há temores de mais violência. A Frente para a Defesa da Democracia (FDD), grupo que uniu 20 ONGs e partidos de oposição, considera o presidente culpado de ‘alta traição’ e promete fazer de tudo para bloquear a votação desta terça.

O risco de instabilidade preocupa não só vizinhos como a Nigéria, já ocupada com seus próprios conflitos internos, como parceiros comerciais como a França, ávida consumidora das reservas de urânio locais.

Os Estados Unidos exortaram norte-americanos a não viajar ao Níger por enquanto. “Cidadãos americanos devem estocar água, comida e artigos de necessidade básica devido a possíveis interrupções na distribuição de suprimentos e serviços”, informou o governo em nota.

O referendo visa aprovar uma nova Constituição, que daria a Tandja mais três anos no poder –em período de transição–, eliminaria limites para reeleição e concentraria poder.

O Níger já foi alvo de três golpes de Estado desde a independência, conquistada da França em 1960, e opositores afirmam que Tandja está lentamente preparando o quarto.

Condenação externa

Os defensores do presidente afirmam que Tandja, eleito em 1999 e reeleito em 2004, merece continuar governando por ter trazido crescimento econômico ao país. Mesmo com crescimento do PIB esbarrando 5% ao ano, o Níger ocupava em 2008 a 174º posição no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, que avaliou 177 países.

A União Europeia (UE), a ONU (Organização das Nações Unidas) e organismos africanos têm visto a situação com preocupação e tentam, com ameaças de sanções, evitar o referendo. A UE suspendeu parte da ajuda ao Níger.

Mas críticos temem que o comércio de urânio (do qual o país é o quarto produtor mundial) enfraqueça a condenação. Um terço do urânio usado para energia nuclear da França, por exemplo, é originado no Níger.

Tandja também tem acordos com a China no valor de mais de US$ 5 bilhões para a exploração de petróleo no país.

Apesar da tensão, um diplomata estrangeiro que falou à Folha em condição de anonimato afirmou que o clima nas ruas da capital nigerina é calmo. “Não há presença anormal de policiais nas ruas”, disse, por telefone, de Niamey.

A expectativa geral é que o referendo será favorável ao presidente. Segundo o diplomata, os críticos têm sido incapazes de engajar a população. “A oposição já é conhecida do povo desde eleições passadas, e historicamente tem pouco poder de convencimento.”